quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Um momento-sorvete

Hummm… o Philinus, esta semana, resolveu seguir à risca o conselho de Sêneca: “Apressa-te a viver a vida”. E não perdeu tempo; correu para a geladeira e se empanturrou de sorvete, sua guloseima preferida.

Bem, a verdade é que não sabemos se, depois disso, ele não ganhou uma baita dor de barriga!


Mesmo assim, quem é que de vez em quando não tem vontade de deixar os compromissos para depois e se jogar de cabeça naquilo que mais gosta de fazer?


O dia a dia da nossa sociedade moderna é, para a maioria das pessoas, marcado por um excesso de atividades e obrigações. Estamos constantemente metidos em tarefas chatas, horários marcados, compromissos burocráticos, e muitas vezes deixamos de lado os momentos de lazer e diversão.

Por outro lado, a vida em sociedade exige de nós algumas regras e limites, como condição para que todos possam viver minimamente em harmonia. E essa condição, evidentemente, implica em uma boa dose de renúncia. Afinal de contas, que criança ou adolescente pode se dar ao luxo de faltar à escola quando lhe dá na telha e ficar em casa de bobeira, navegando na internet ou jogando vídeo-game? Ou, que adulto consegue simplesmente faltar ao trabalho e ir bater papo com os amigos? O próprio Sêneca, autor da frase que o Philinus leu, entendia muito bem dessas renúncias.

Contemporâneo de Jesus Cristo, Sêneca foi um dos mais importantes advogados, escritores e intelectuais do Império Romano. Embora fosse rico, levava uma vida extremamente modesta: bebia somente água, comia pouco e dormia sobre um colchão duro. Defendia que a ética e o cumprimento do dever eram a forma correta de se viver a vida. Para ele, o abandono dos bens materiais e a busca da tranquilidade mediante o conhecimento e a contemplação eram o caminho para uma vida plena. Sêneca acreditava no destino e pensava que o homem sábio é aquele que aceita seu destino de livre vontade, tornando-se, por esse motivo, livre. Para alcançar esse objetivo, defendia ele, necessitamos superar os afetos que perturbam nosso espírito, como a relutância, a cobiça, a vontade e o receio. 

Mas é claro que ninguém é de ferro! Às vezes, todos nós nos presenteamos com um ‘momento-sorvete’, tal como o Philinus fez, não é verdade?

Será que, apesar de todas as obrigações e tarefas do nosso dia a dia, encaixar momentos de maior prazer e satisfação não torna a nossa rotina mais suportável? Praticar um esporte, assistir a um bom filme, ler um gibi, conversar com um amigo, dar um abraço em quem se ama, rir ou até mesmo ficar sem fazer nada, só brisando. Ou, quem sabe, se deliciar com um belo sorvete!

O final da citação de Sêneca nos convida a refletir sobre essas questões: “Cada dia é por si só uma vida”. 

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